A argumentação na aula de Matemática: Olhares sobre o trabalho do professor
Ana Maria Boavida,
ESE de Setúbal
O interesse pela argumentação no âmbito da educação matemática é bastante recente. Foi apenas nos anos 80 que ganharam terreno as discussões sobre o tema, no âmbito do esforço feito para “atacar” o problema da especificidade da prova matemática relativamente à argumentação e estabelecer ligações entre perspectivas epistemológicas, cognitivas e educacionais (Douek, 1999). Ao apresentar uma perspectiva história sobre o ensino da Matemática no encontro anual da AERA realizado em 1999, Kilpatrick referiu-se ao período de 1980-2000 como the age of argumentation. Este interesse pela argumentação a par da necessidade de se criarem na aula de Matemática condições favoráveis ao envolvimento dos alunos em experiências de aprendizagem cujo foco é a explicação e fundamentação de raciocínios, a descoberta do porquê de determinados resultados ou situações e a formulação, avaliação e prova de conjecturas, encontram eco nas actuais orientações para o desenvolvimento do currículo de Matemática consideradas tanto a nível nacional, como internacional. No entanto, apesar de ser amplamente reconhecido o valor e importância dos alunos participarem nestas experiências, as actividades de argumentação matemática, que as contemplam, têm uma expressão débil, ou mesmo inexistente, em muitas salas de aula de diversos níveis de ensino. O estudo PISA 2000 revela que muitos jovens portugueses têm uma fraca capacidade de argumentação, visível nas justificações que apresentam para os problemas que lhes são colocados. Também Chevallard, Bosch e Gascón (2001), sublinham que os alunos agem, frequentemente, com uma certa “irresponsabilidade matemática”, como se não fizesse parte do seu papel comprometerem-se com a coerência, avaliação ou justificação dos seus raciocínios nem com a análise crítica e fundamentada do que escutam. Lidar com esta situação de modo a alterá-la não é simples, tal como não é simples ensinar os alunos a avaliar, reconhecer e produzir argumentos matematicamente válidos adaptados à sua maturidade. A complexidade deste processo coloca o professor perante desafios que não existirão se a ênfase for meramente colocada na aprendizagem de técnicas e procedimentos ou se o controle do discurso que se desenrola na aula e o poder decisório sobre o valor matemático desse discurso estiver inteiramente nas suas mãos. Visando analisar a natureza do trabalho do professor quando intencionalmente o orienta para o propósito de envolver os alunos em actividades de argumentação matemática, desenvolvi com duas professoras do 3º ciclo do ensino básico um projecto de investigação colaborativa durante cerca de dois anos. Esta conferência incide sobre o estudo realizado. Em particular, abordarei vertentes em torno das quais se organizaram as suas práticas, aspectos que influenciaram e facilitaram a emergência e desenvolvimento de actividades de argumentação matemática e desafios enfrentados, sua origem, incidência e persistência. Focar-me-ei, também, nos principais traços do projecto desenvolvido de modo a destacar potencialidades reconhecidas e problemas enfrentados e evidenciar que um trabalho em colaboração cuja equipa inclui pessoas com conhecimentos, experiências e formações diversificadas pode constituir um contexto significativamente favorável ao desenvolvimento do professor. Referências Chevallard, Y., Bosch, M., & Gascón, J. (2001). Estudar matemáticas: O elo perdido entre o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed Editora. Douek, N. (1999). Argumentative aspects of proving of some undergraduate mathematics students’ performances. Retirado a 8 de Março de 2000 de http://www-cabri.imag.fr/preuve.
(Texto Completo -- Ficheiro Word )
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